Historicamente, ao longo de cerca de 100 anos, os meses de março, abril, maio e junho eram tidos como os mais chuvosos na capital sergipana. No entanto, nos últimos três anos, a tendência histórica tem demonstrado um padrão diferenciado, com a inclusão de julho como mês chuvoso.
Diante disso, o trabalho de monitoramento da Prefeitura de Aracaju é intensificado durante esse período de cinco meses para garantir a otimização do tempo-resposta às demandas da cidade e, consequentemente, da população.
Na abertura da temporada de chuvas, o mês de março se apresenta com um aspecto a mais, a maré alta, o que aumenta as atenções para a cidade, ao longo do mês, como ressalta o coordenador da Defesa Civil de Aracaju, major Sílvio Prado.
“Março é caracterizado como um mês de chuva que pode vir acompanhado de maré alta. Até agora, já tivemos sete marés altas durante este mês e teremos a última no dia 30. Por isso, damos maior atenção a este mês pela combinação de fenômenos naturais”, explica.
Até o momento, já choveu mais de 200 milímetros neste mês, acima da média, que varia entre 120 e 130 milímetros e, conforme Silvio, essa é uma tendência que deve seguir nos demais meses, até julho.
“A média histórica para Aracaju, durante o ano todo, é de 1.300 milímetros e, nos últimos três anos, tem chovido 1.800 milímetros. A tendência é que, neste ano, gire em torno desses 1.800, sendo que na quadra chuvosa há possibilidade de termos chuvas acima da média histórica. Em abril, a média é de 140 milímetros, com tendência a 180 milímetros. Maio, que é o mês mais chuvoso do ano, há previsão de 350 a 400 milímetros. Junho com a mesma tendência do mês anterior a ele, e julho de 280 a 300 milímetros previstos”, detalha o coordenador da Defesa Civil.
Silvio Prado ressalta que, apesar de ser uma cidade relativamente pequena, Aracaju tem a característica de ter chuvas muito distribuídas. “Acontece de chover muito numa região e não chover em outra. E os pluviômetros instalados nos ajudam neste sentido porque nos mostram onde está chovendo sem que a gente precise ir ao local verificar, ou seja, hoje há otimização e já vamos ao local certos de que, realmente, choveu na localidade. É otimização do tempo-resposta para atender os locais que precisam de atendimento ou, pelo menos, de monitoramento”, considera.
Plano de Contingência
Elaborado pela Prefeitura, através do Comitê de Gerenciamento de Crise, o Plano de Contingência é atualizado todos os anos para as situações adversas provocadas pelas chuvas no município. Esse planejamento visa priorizar a segurança das pessoas diante de possíveis perigos provocados pelo fenômeno natural.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Aracaju, muitas das experiências vivenciadas nos últimos quatro anos foram incorporadas ao Plano e, desta forma, atualmente, a Prefeitura possui uma capacidade de resposta maior e mais efetiva. Um dos exemplos citados pelo major é relacionado à capacidade de atender desabrigados.
“Por conta da pandemia, em situações extremas, fizemos um contrato com hotéis, para acomodação de pessoas. Se o limite se esgotar, temos como colocar as pessoas em abrigos temporários, que são os Cras do Santa Maria, referência da zona Sul, do Coqueiral, na zona Norte, e do Jabotiana, na região mais ao Centro. Depois dos Cras, temos a possibilidade de abrigar pessoas em escolas municipais, mas essa é a última opção para não interferir nas aulas. Nesses abrigos, fornecemos alimento, colchões, material de limpeza e higiene pessoal, e até caminhão baú para recolher os pertences dos moradores de áreas atingidas, além de três micro-ônibus e cinco vans, com capacidade de transportar até 150 pessoas de uma só vez. Acabando essa capacidade de abrigo, ainda temos a possibilidade de solicitar recursos do Governo Federal”, aponta o coordenador.
Ao longo dos anos, as equipes da Secretaria Municipal da Defesa Social e da Cidadania (Semdec), por meio da Defesa Civil, identificaram as áreas de maior risco da cidade, o que potencializou a atuação intersetorial, indicando para a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb) onde deveriam ser feitas as obras de contenção de encostas, por exemplo. “São três obras em andamento, no momento. No Planejamento Estratégico está a realização de, pelo menos, uma obra de contenção por ano, para eliminar o risco de deslizamento de terra e possível desabamento de casas”, acrescenta o major.
Outro ponto sensível do Plano de Contingência é o bairro Jabotiana, sobretudo a região do Largo da Aparecida. Conforme Sílvio Prado, a gestão municipal, inclusive, atua na captação de recursos para a dragagem do Rio Poxim.
Ainda com os desafios, o major salienta que, nos últimos anos, Aracaju tem respondido de forma eficaz às situações de chuva. “Tanto melhoramos que, antigamente, tínhamos que reunir o Comitê com 60 milímetros de chuva porque a quantidade de ruas alagadas já era muito grande. Atualmente, só reunimos a partir de 80 milímetros, ou seja, a cidade consegue absorver 20 milímetros a mais, graças ao trabalho preventivo de limpeza de canais e da rede de drenagem, além de obras históricas, como a ocorrida na Euclides Figueiredo”, pontua.
Monitoramento
Aracaju é a única cidade, no Brasil, a possuir um serviço completo de monitoramento de chuva e outros fenômenos naturais, e também é referência nacional, neste quesito. Isso porque, desde julho de 2020, a Prefeitura adquiriu um conjunto de equipamentos e serviços necessários para dar suporte à ferramenta ClimAju.
O sistema de monitoramento climático, cujo acesso é disponível à população, contribuiu sobremaneira para otimizar o tempo-resposta das equipes operacionais do Município em ações relacionadas às chuvas e outros eventos naturais, como ventos fortes e até movimentação de terra.
“Com ele, atualmente, conseguimos ter uma ideia do que está acontecendo em tempo real e, assim, direcionar as nossas equipes para prestar o suporte antes que fenômenos naturais ofereçam risco à população. Não podemos evitar que o fenômeno aconteça, mas podemos otimizar o tempo-resposta, e é isso que acontece hoje”, destaca o coordenador da Defesa Civil.
Para dar esse suporte à ferramenta, foram instalados 18 pluviômetros, sete câmeras de clima, cinco sensores de inundação e dois sensores de movimentação de terra. “Os pluviômetros estão espalhados da zona Norte à Sul da cidade e nos dá, em tempo real, a quantidade de chuva que acontece nas regiões. Isso nos dá a ideia de qual local poderá ter uma maior ocorrência de incidências, como alagamento, deslizamentos de terra e inundações, e diminui o nosso tempo-resposta porque saberemos onde ocorre a situação” explica Silvio.
Segundo ele, o sistema auxilia, também, sobre a velocidade dos ventos, quando estão acima da média. Com relação aos sensores de alagamentos, ele destaca que foram instalados em locais, em que, historicamente, há registros desse tipo de ocorrência, como na avenida Airton Teles e também na Ministro Geraldo Barreto Sobral, e ainda em dois pontos da extensão do Rio Poxim. “Assim, antes de transbordar, podemos tomar as medidas cabíveis. Já as câmeras nos dão a possibilidade de saber a perspectiva de chuva em cada região, o que é outro fator que nos orienta nas ações”, completa.
AAN