Ao optar pela área de saúde, muitos têm o respeito à vida como principal mola propulsora, o norte que guiará a formação e construção da carreira. Prezar e cuidar da vida do próximo, no entanto, não é tarefa fácil, envolve, sobretudo, dedicação e um olhar humano e acolhedor. Expressões como essas foram vistas, na sexta-feira (28), durante o incêndio que ocorreu no Hospital Municipal Dr. Nestor Piva, quando uma força-tarefa de solidariedade e instinto humano foi essencial para salvar, proteger e acolher vidas.
Entre os profissionais da área de saúde e da assistência social da Prefeitura de Aracaju estavam trabalhadores que nem ao menos foram escalados para atuar naquele dia, mas, honrando a escolha que fizeram, decidiram sair de onde estavam para dar suporte em meio à operação realizada na unidade, tanto para retirar os pacientes da ala atingida, como também para prestar acolhimento aos familiares.
A enfermeira Andrea Dantas foi uma das profissionais que não estava de plantão, mas não pensou duas vezes para ir ao local e oferecer o que poderia, no momento, mesmo estando vivendo um luta em sua vida pessoal.
“Fiquei sabendo por volta das 7h30, estava em casa e ainda me recuperando da perda da minha avó, mas não coloquei isso como um obstáculo. Naquele momento, só pensei em unir forças. Então, na verdade, o que me veio à cabeça foi que eu seria mais uma a somar, a fazer com que as coisas pudessem fluir melhor. Mesmo sendo capacitados para lidar em situações como essa, foi um momento difícil. Ainda assim, todos fizeram o que podiam para ajudar”, conta Andrea.
A enfermeira Ariane Reis também não estava de plantão, mas entende bem o seu papel profissional e humano. “Somos uma equipe e precisamos unir esforços em toda e qualquer situação, por isso, nosso papel é prestar assistência. Para mim, foi uma experiência muito triste, dolorosa, mas, ainda assim, enquanto profissional, me foi muito valorosa, já que pude auxiliar, de alguma forma, e oferecer o meu apoio”, ressalta.
Para a enfermeira e supervisora técnica Jéssia França, a experiência marcou sua vida.
“Ver todos os nossos profissionais lutando para salvar os pacientes foi algo transformador, foi uma experiência que vai nos marcar pro resto das nossas vidas porque, além de estarmos lutando contra um vírus letal, ainda vivenciamos um incêndio que, infelizmente, também tirou vidas. No entanto, fica a lembrança da união, da solidariedade e entrega de tantas pessoas que se dedicaram para ajudar, nessa situação tão difícil”, desabafa Jéssia.
Assistência
Além dos profissionais da própria unidade, a Prefeitura atuou, durante todo o tempo, no suporte aos trabalhadores, pacientes e seus familiares.
Por meio da Secretaria Municipal da Assistência Social, através da Coordenadoria de Programas e Benefícios Socioassistenciais da Secretaria Municipal da Assistência Social, os familiares das vítimas foram atendidos e receberam todas as informações necessárias, incluindo o acesso ao serviço funerário. No entanto, o suporte foi além da parte burocrática, e envolveu também diálogo, conforto e orientação.
Além disso, uma equipe esteve de prontidão para dar informações e acolher as famílias dos pacientes que foram a óbito. A Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em parceria com a Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplog), montou uma estratégia de atendimento para todos aqueles que estavam no local no momento do incêndio e que ficaram abalados psicologicamente com essa tragédia.
Incêndio
Na sexta-feira (28) ocorreu um incêndio no Hospital Nestor Piva, iniciado na sala de prescrição médica da ala covid. No momento, havia 41 pacientes na unidade, sendo 24 internados nesta ala, 14 na ala de internação geral e três em observação.
Por causa das chamas, foi necessário evacuar e isolar toda a unidade, sendo necessário remover os pacientes e profissionais. Quatro pacientes foram a óbito, todas mulheres, com idade entre 49 e 77 anos. Três delas faleceram no local e uma durante a transferência.
Paralelamente, a Central de Regulação da SMS articulou a liberação de leitos tanto na rede municipal quanto nas redes estadual e particular de saúde. Das pessoas transferidas da UPA, entre pacientes e profissionais, cerca de 60% foram absorvidas na própria rede municipal, cuja capacidade de atendimento, ampliada pela Prefeitura em 90% entre janeiro e maio deste ano, tem evitado a desassistência em saúde da população durante a pandemia. Com taxa de ocupação dos leitos de retaguarda inferior a 55%, na sexta-feira (28), a rede municipal dispunha de estrutura suficiente para atender a demanda emergencial decorrente do fechamento temporário dos leitos do Nestor Piva.
Dos 31 pacientes que permanecem internados, seis estão no Hospital Universitário, dois estão na Unidade de Tratamento para Queimados, três na retaguarda municipal no Huse, três no Fernando Franco, dois no HPM, dez na retaguarda municipal do Santa Isabel, quatro no Cirurgia.