A notícia mais temida, conquanto inevitável, veio à tona no último dia 14 de março, quando a Secretaria de Estado da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus em Sergipe. No sábado seguinte, 21, os casos confirmados chegavam a 10.
Colhidos pela tempestade, tivemos que rapidamente mudar de hábito, alguns por vontade própria, outros por força dos decretos emitidos pelos governantes, com vista à prevenção do contágio e disseminação do vírus.
A ordem é para que todos se mantenham em casa, só saindo em situações absolutamente necessárias. Quanto menor a quantidade de pessoas infectadas, menor a demanda por unidades de saúde nas situações mais graves.
Os serviços essenciais, públicos ou privados, no entanto, não podem parar ou sofrer qualquer solução de continuidade, pois deles dependem não só a existência bem como o funcionamento do próprio Estado.
Entre esses serviços está a atividade de segurança pública, prestada pela Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, no âmbito da união; pela Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar, no âmbito estadual, bem como pelas guardas municipais, na esfera municipal. É inegável que a esse rol devemos acrescentar os peritos, papiloscopistas e agentes prisionais, pois todos integramos o sistema de justiça criminal
Como delegado de polícia civil lotado em uma unidade plantonista, tenho a oportunidade de estar em contato permanentemente com policiais militares, policiais rodoviários federais, peritos criminais, papiloscopistas e guardas municipais, além, obviamente, dos colegas da Polícia Civil que atuam conosco.
É visível no semblante de todos esses profissionais o misto de angústia e preocupação ante o novo quadro aterrador. O dever nos convoca à luta diariamente. O perigo – inerente à própria atividade -, aumenta exponencialmente com a chegada do novo inimigo… invisível, traiçoeiro e mortal.
Conquanto bem-vindas, as medidas de prevenção adotadas nas unidades policiais, até o presente, são falhas e insuficientes, a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) expõe os servidores ao risco de contágio, sem falar na inadequação dos próprios prédios e suas instalações.
Numa palavra: entrar em uma delegacia de polícia, nas atuais circunstâncias, é o mesmo que praticar roleta russa. Assim como o animal da famosa experiência mental de física, probabilisticamente estamos todos vivos e mortos ao mesmo tempo.
Paulo Márcio Ramos Cruz
Delegado de Polícia Civil
Central de Flagrantes de Aracaju