O Instituto Histórico promoveu um concurso no século XIX para escrever a história do Brasil. O alemão naturalista e biólogo Carlos Frederico von Martius, que integrou a expedição que acompanhou Dona Leopoldina ao Brasil para seu casamento com Dom Pedro I, concorreu e ganhou o concurso com a proposta “Como se deve escrever a história do Brasil”, que abordava a formação do país a partir das três raças: o índio, o negro e o branco.
Esse conceito de “raças”, com viés biológico, refletia a pseudociência da época, difundida na Europa e nas colônias, influenciada pelas teorias evolucionistas e darwinistas sociais. Segundo Martius, o estudo do Brasil deveria ser feito na perspectiva da “mescla”, onde a “raça branca” portuguesa seria o “rio motor do desenvolvimento”, e o índio e o negro africano, a “confluência” desse processo, reforçando uma hierarquia racial clara. Martius, embora racialista em sua abordagem, procurava ser condescendente ao tentar amenizar o racismo em voga entre os intelectuais colonizadores. Ele acreditava que a pobreza e o “estacionamento” histórico de certos povos, como os indígenas, resultavam de um desenvolvimento anterior interrompido, reforçando a hipótese da “degeneração”, comum em discursos eurocêntricos da época.
Martius orienta que o pesquisador se aprofunde na história do índio, mas o vê como um povo “degenerado”, salvo resíduos de uma civilização anterior (como os maias e astecas), que teriam atingido um estágio mais avançado no passado. Ele defende o estudo dos mitos, lendas e da língua tupi, pois, para ele, os povos originais não tinham visão científica, baseando-se em mitos. Já o negro é considerado inferior ao índio, e, embora reconheça o tráfico negreiro e a escravidão, ele os aborda de forma superficial, sem aprofundar na brutalidade do processo. Martius classifica o índio e o negro como “primitivo” e “bárbaro”, respectivamente, enquanto o europeu é visto como o ápice da evolução, refletindo um determinismo racial que permeia sua obra. Para Martius, a história do Brasil segue uma “lei particular das forças diagonais”, em que a interação entre as raças molda a vida orgânica da população brasileira.
A historiografia proposta por ele é pragmática, priorizando o elemento português como central na formação nacional, ignorando as complexidades culturais e sociais das populações marginalizadas. Para Martius, o “gênio da história do mundo” se manifesta na mistura dessas raças, mas com a supremacia da influência europeia, evidenciando a visão colonialista de progresso e civilização.
Autor: Antônio Porfírio de Matos Neto
- Graduação em: Direito, Economia, Filosofia, Ciência Política e Administração
- Graduando em História
- Pós-graduação em Gestão Municipal
- Mestre em Economia
- Doutorando em Filosofia


