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Artistas sergipanas levam o Slam para escolas públicas como forma de educação libertadora

by Redação
24/10/2025
in Destaques, Educação
Artistas sergipanas levam o Slam para escolas públicas como forma de educação libertadora

O Slam vai além da fala, da poesia, é uma expressão que movimenta todo o corpo, essencial para libertação e quebrar barreiras (Crédito arquivo pessoal)

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Dentro dos muros do colégio, Davi era afastado. Colocavam ele no canto, tiravam sarro do seu jeito de viver, da sua deficiência e do seu silêncio. Dentro de casa, nada mudava. Ouvia dos seus pais que não seria ninguém, que jamais alcançaria ao menos um mestrado, que a sua vida já estava ceifada desde o nascimento.

Certo dia, duas mulheres chegaram em sua escola e lhes apresentaram um jeito diferente de brincar com as palavras. Davi se interessou, mesmo que em público nunca tenha deixado alguém ouvir a sua voz. Escutou o que aquelas moças tinham a ensinar. Era o Slam, uma poesia que nasce da periferia e que carrega denúncias, fragilidades, resistências e identidades.

Davi escreveu o seu primeiro Slam. Nele, contava sobre tudo o que passava, que na escola ninguém o enxergava, que os pais lhe dizia que ele não iria ser nada, um burro. O silêncio de Davi foi quebrado, a poesia atravessou o seu corpo e da plateia todos se surpreenderam. Davi não só falou, Davi recitou.

A oficina de Slam ministrada na escola de Davi foi a partir do projeto educacional Sankofa, das artistas Anne e Yala Souza. As irmãs desenvolveram esse projeto com o intuito de expandir a arte periférica por diversos lugares de Sergipe e, principalmente, formar cidadãos críticos.

“Hoje eu entro nas escolas falando para os alunos: vocês têm a sua voz, e a sua voz é algo extremamente importante, é algo que causa muito impacto e vocês precisam falar”, contou Anne Souza.

Periferia é centro artístico

Anne e Yala foram criadas na ocupação da Matinha, localizada em Aracaju, próximo à ponte que liga a capital à Barra dos Coqueiros. A Matinha foi fruto de muita luta de moradores que ocuparam um terreno abandonado da Construtora Sol Empreendimentos, que segue ativa até hoje, em meados dos anos 1990.

As manifestações se deram pelas diversas tentativas de despejo dos moradores do local pela empresa, que ao mesmo tempo pressionava a prefeitura para retirar as pessoas dali. Mas as raízes foram fincadas e da Matinha foi possível ver muitas revoluções acontecerem.

No entorno da Matinha, as irmãs foram percebendo as expressões artísticas que emergiam daquele lugar, em especial o movimento Hip Hop com os elementos do grafite, rap e breaking. Yala Souza sempre teve um fascínio pela escrita, mexia com as palavras para poder contar o que vivenciava, observando os encontros de MC’s e as músicas que tocavam nas esquinas, quis soltar o verbo. 

“Eu comecei a ouvir muito rap, foi aí que eu comecei a ter uma noção de pertencimento mesmo, de me identificar enquanto mulher negra, como mulher periférica, através das músicas que eu ouvia de rap, aí eu tive a vontade de querer escrever. Eu comecei a escrever algumas letras, e em meados de 2015, 2014, eu gravei a minha primeira música com o grupo Relato Verdadeiro”, disse Yala.

O movimento Hip Hop instigou Yala a se empoderar como indivíduo e a militar por causas sociais, a levando, assim, para a Universidade Federal de Sergipe, em que se formou como cientista social. “Foi quando, em 2018, eu conheci a poesia de Slam, aí eu comecei a perceber que as músicas que eu escrevia, por ser rap, eram poesias também”.

A partir de então, Yala foi construindo a sua carreira artística com o Slam e a arte educação. Em 2023, a sua voz atravessou os limites da Matinha e de Sergipe, venceu o campeonato estadual de poesia falada, o Slam Sergipe, e foi competir nacionalmente representando o estado no Slam Br, maior campeonato de Slam do Brasil.

Atualmente, Anne e Yala promovem três campeonatos de Slam: Slam da Norte, Slam da Vera e Slam de Dupla (Crédito arquivo pessoal)

Com cerca de 12 anos na cena do Hip Hop sergipano, Anne Souza é poeta, nunca se viu como MC, como a sua irmã Yala, mas sempre como uma escritora. Anne conheceu o Hip Hop debaixo da ponte Aracaju-Barra, no Bairro Industrial. “Eu via as pessoas falando, eu me identificava, mas eu queria também usar a minha voz e também falar. E foi a partir disso, desse desejo de querer usar a minha voz, que eu decidi escrever poesia”, contou Anne.

Ao se aprofundar no Slam e tornar isso um instrumento da sua vida, Anne idealizou o Slam da Norte, junto com Yala, um projeto que pensa na inclusão de pessoas, principalmente pessoas com deficiência. “Foi o primeiro Slam a pensar na acessibilidade linguística, de trazer intérprete de Libras, de convidar a comunidade surda para conhecer o que é esse movimento de Slam que a gente faz aqui no nosso estado. Então, o Slam da Norte vem com essa proposta de inclusão, de incluir as pessoas com deficiência.”

Pensando em aprimorar a sua poesia e a sua didática, Anne se formou em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, e hoje é uma arte educadora em que toca, dentre outros projetos, o Sankofa.

O Hip Hop inspira e respira

As irmãs cresceram observando o seu entorno e se encantando pelas artes que floresciam, foram estudar e praticar o que faziam os seus olhos brilharem. O Hip Hop estava ali, do outro lado da rua, sem ter ninguém que as apresentassem como um movimento artístico, as irmãs foram descobrindo sozinhas esse mundo gigante que as esperava.

O tempo passou e hoje, Yala com 31 anos e Anne, 30, decidiram fazer um percurso diferente: levar a arte para outros lugares, mostrar para outras crianças que o Hip Hop pode salvar vidas. 

O projeto Sankofa já passou por dezenas de escolas públicas de Sergipe e do Brasil realizando oficinas de Slam, campeonatos e projetos de leitura, como a “Oficina Leia Carolina: Valorização de Escrevivências de Pessoas Negras e Periféricas”, que propôs uma imersão nos escritos de Carolina Maria de Jesus para educandos e educandas. Recentemente, o projeto foi até a unidade prisional feminina realizar uma oficina de Slam com as detentas.

“É o movimento de Sankofa, voltar ao passado para ressignificar o futuro, e para trabalhar o futuro, ver o passado, mas com outros olhos, não só com o olhar de sofrimento, de tristeza e dor, mas também com o olhar de pegar tudo aquilo do passado e de empoderamento, que é esse movimento que a gente faz quando leva o projeto de Sankofa para as escolas”, disse Yala.

No cenário de Sergipe, o Slam já teve momentos altos e baixos, em que uma hora ou outra aconteciam alguns campeonatos. As irmãs Anne e Yala, incomodadas com essa instabilidade, resolveram movimentar ainda mais o Hip Hop sergipano criando projetos e formando mais poetas. 

“Quando a gente começou a ir para as escolas, a gente via que tinha vários alunos que se interessavam, alguns já conheciam, mas não por saber que aqui [em Sergipe] tinha, mas porque assistia vídeos de poetas de São Paulo, que são os mais conhecidos, e a gente começou a trabalhar todo o processo de escrita de Slam, de dar dicas, de performance”, explicou Yala.

O Slam vai além da fala, é uma expressão que movimenta todo o corpo, seja individual ou coletivo. Quem recita, ocupa um lugar de atenção, de protagonismo, essencial para libertação e quebrar barreiras. 

“O Slam não é só a poesia, tem uma performance corporal, que é você, seu corpo e sua voz, apenas, nenhum adereço, nenhum acompanhamento musical. Isso às vezes não é fácil, você se colocar em uma posição de protagonista e receber notas pela sua poesia, mas a gente sempre fala que a competição é só uma desculpa, porque o Slam é acolhimento, e a gente leva isso muito para as nossas oficinas nas escolas, de mostrar que o Slam é um espaço de acolhimento, onde você pode se sentir à vontade, e você pode escrever sobre qualquer coisa”, disse Yala.

Os alunos escrevem poesias sobre as suas vivências, que muitas vezes são formas de denúncia (Crédito arquivo pessoal)

Um dos objetivos do Sankofa é fazer com que os alunos de escolas periféricas reconheçam o poder da própria voz e a partir disso as pessoas, logo quando criança, comecem a se enxergar como cidadãos ativos, capazes de propor e realizar mudanças. “A gente acredita muito na palavra, que a palavra é uma ferramenta de libertação. Eu acredito na palavra, na oralidade, como uma forma de a gente se libertar e deixar que as pessoas não falem por nós”, contou Anne.

As artistas desejam que outras pessoas lutem por seus sonhos e nunca desistam deles, que ocupem espaços no estado, no país e no mundo, assim como as raízes da Matinha. E dessa forma elas também seguem fazendo. 

Em agosto deste ano, Anne e Yala foram convidadas para representar o Nordeste no IX Torneio de Slams, que aconteceu em São Paulo. Para elas, esse foi um momento muito simbólico em suas trajetórias, pois é uma marca de todo o empenho que buscam para que o Hip Hop sergipano seja reconhecido.

Em outubro, Yala Souza discursou na câmara de vereadores de Aracaju pedindo por mais políticas públicas direcionadas ao movimento Hip Hop. “Por que um movimento tão grande como esse não tem apoio nenhum? Enxergam a gente com olhares de marginalidade, porque eu já passei por várias vezes que a gente tá ocupando um espaço público fazendo arte, e chega a polícia pra querer acabar com tudo. Queria acabar, mandar desligar o som, achar que todo mundo que tá ali é bandido, que são pessoas drogadas, sendo que não é. A gente tá fazendo arte”, explicou Yala.

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