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Home Destaques

A vida no interior

04/06/2025
in Destaques, Sergipe
A vida no interior
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Luiz Eduardo Oliveira
Doutor em Saúde e Ambiente

Nasci e cresci na capital do meu estado, Sergipe, e o contato com a vida no interior começou muito cedo. Tudo por conta de um costume comum à época, quando os pais de família numerosa “entregavam” um ou mais filhos para parentes que não tinham ou que queriam mais um.  Assim começou nossa relação com meus tios e padrinhos e com o interior.

Meus pais, Augusto César e Enelita Melo, tiveram 11 filhos, sendo que um morreu aos dois anos, vítima da cabeçada de um bode que meu pai criava no quintal. Isso só soube na adolescência pois era um assunto que minha mãe não gostava de falar. O fato é que mesmo com 10 filhos vivos ela ainda demonstrava carinho especial para com ele, o Luiz Carlos, que nem por foto conheci.

Os nossos pais sempre trabalharam muito, seja “fazendo” filhos ou no dia-a-dia para nos dar o que comer. Poucos foram os momentos em que os vi saindo para “se divertir”, acho que somente no sexo os dois tenham “brincado” juntos. O fato é que a rotina de trabalho, na bodega, era intensa. Minha mãe nunca foi uma mulher de esperar por meu pai e vice-versa. Acordavam cedo, muito cedo, e a atividade laboral era constante. Enquanto nosso pai “abria” o armazém, nossa mãe preparava o café e os bolos que seriam vendidos durante o dia.  Daí em diante, os dois se reversavam nas atividades do comércio e da casa. Enquanto um fazia compras para abastecer o armazém o outro ficava no local.  Invariavelmente nossa mãe tinha atividade dupla, tripla, quádrupla, sei lá o que mais, seja colocando os filhos para a escola, seja “olhando” a cozinha ou mesmo fiscalizando o nosso pai nos “atendimentos” às clientes. O “velho” não era de brincadeira…

Bom, nossos tios do interior, de vez em quando, vinham à capital para alguma atividade comercial e nessas idas e vindas sempre brincavam com meus pais, solicitando um dos filhos, homens, no sentido de deixar passar um tempo com eles, pois logo “trariam de volta”. Isso era um alívio para meus pais.  Uma vez era eu e na outra era meu irmão mais velho, nossas diferenças na escala etária era, e é, de 03 anos. Meus pais fizeram filhos “um atrás do outro”. Soube, já na minha adolescência, que o escolhido tinha sido o meu irmão pelo fato de ser um pouco mais velho e dar menos trabalho no cuidado. Coisa do destino ou providência divina. Enfim, meu irmão, nessas “missões”, dos meus tios em Aracaju, foi o escolhido e o João acabou ficando por lá, no interior. Já adulto soube que isso provocou problemas para ele, mas isso é outra história. Ele, depois de algumas terapias e análises, aliadas com boa vontade, tornou-se um ser humano excepcional de bom, resolvido e que soube superar as adversidades. Hoje somos parceiros em viagens e confidências, algumas complicadas e que evito contar até para mim, mas partilhamos de muitas conversas pessoais. Há uma parte nesse percurso que nunca ficou esclarecida direito, mas o fato é que o João Marcos, ficou por lá e ele foi a nossa conexão com o interior.

O tempo foi passando e as atividades diárias foram demandando novas relações em família, afinal os nossos tios tronaram-se pais de meu irmão.  Como eles continuaram a comparecer à nossa casa, na capital, o contato com o nosso irmão proporcionava motivos para algumas brigas, que logo eram resolvidas, seja porque ele logo voltaria ou porque não tínhamos tempo e nem vontade de continuar “de mal”.

E aí os anos letivos começaram, com “paradas” para o descanso de junho e nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando tínhamos um período maior de férias.  Em uma dessas chegadas dos meus tios à nossa casa, passei a frequentar a vida no interior para “brincar” com meu irmão e passar as férias.  Que tempo bom, a vida na roça era cheia de surpresas e de atividades, porém, além de brincar não deixávamos de “ajudar” e cumprir com as tarefas passadas pelos “pais de meu irmão”. Havia respeito pelos dois.

Lá no interior, em Simão Dias, na roça, eles viviam em uma casa simples, sem energia elétrica, onde à noite fazíamos uso de candeeiros que eram colocados dentro dos quartos e usados somente quando necessário. Na cozinha tinha um forno à lenha que além de cozinhar, servia para aquecer e para algumas conversas em torno do fogão à lenha. No teto sempre havia algumas cascas de laranja que fazíamos questão de pegá-las e descascá-las o mais inteira possível para depois arremessá-las com o objetivo de fixá-las no lugar mais alto daquele teto baixo. Algumas passavam anos penduradas e ficavam extremamente secas.   Pelas frechas no telhado era possível ver, durante o dia, raios de luz que pareciam flechas. Havia um tanque, dentro da casa que armazenava água da chuva e servia para tudo, inclusive para o banho, geralmente ao final do dia. Um banheiro dentro de casa onde tomávamos banho de cuia e outro fora onde fazíamos nossas “necessidades” humanas, mas nem sempre, pois quando estávamos pelo sítio, era por lá mesmo que resolvíamos essas questões fisiológicas, fazendo uso de folhas para “limpar o serviço”.  Uma mesa grande com lugares hierarquicamente estabelecidos, em especial os locais onde ficavam meus tios, e outros que eram compartilhados entre os visitantes e empregados e onde nos metíamos, eu e meu irmão.  Havia ainda uma dispensa que de vez em quando eu entrava escondido e onde eram guardadas as rapaduras e alguns doces caseiros.  Um alpendre grande na parte da frente e um quintal ainda maior cercado por varas, para as necessidades da casa. Para ter acesso à casa era necessário passar por uma cancela que ostentava um chocalho grande na ponta. O abrir e o fechar daquela cancela significava muito para mim. Ela me colocava seguro na casa da roça e abria um mundo de possibilidades quando me empurrava para o lado de fora.

Durante o dia, perambular pelos pastos era o grande aprendizado. Primeiro, logo cedinho, depois de ouvir o cocoricar do galo, era necessário parar no curral para tomar o leite quente, direto da vaca. Fazíamos questão de estar presentes para ver o vaqueiro Dino entrelaçar as pernas das vacas e com maestria sacar o leite de forma sequenciada e rápida. O barulho do leite ao cair no vaso de alumínio ainda ressoa na minha mente. Os bezerros, de vários tamanhos e cores, berravam incessantemente. Tentei algumas vezes sacar o leite escondido nos úberes das vacas e demorei a “pegar a manha”. Correr atrás do que brincar, seja usando um carro de mão e transformá-lo em um carro de bois ou utilizar os bichos e plantas como confidentes e parceiros nas peripécias, era a nossa missão. 

No engenho, bem próximo à casa, além de presenciar a moagem da cana, aprendíamos, de maneira lúdica, sobre a importância do trabalho coletivo para a realização da conversão do caldo de cana em rapadura. Os bois em atividade contínua e girando sempre na mesma direção extraiam o caldo da cana que passava pelas prensas. De um lado, o caldo, do outro, o bagaço que era reaproveitado para o gado ou para queimar.  O caldo era coberto com um pano para afastar os insetos, “jogado” em um tacho grande e posto no fogo, por horas, sendo necessário, de vez em quando, uma colher grande, para retirar a borra.  As abelhas estavam sempre por perto. Depois de horas, o caldo grosso era colocado em uma tábua com várias divisões onde, depois de um tempo, transformava-se em rapadura.  Uma pequena parte servia como “puxa” e após várias puxadas, convertiam-se em esculturas doces, com cor branca ou amarelo ouro, a gosto do artista.

Tínhamos a opção em acompanhar nosso tio “Sinhô” nos trabalhos da fazenda ou “na rua”, local onde ficava a casa, na sede do município.  Na fazenda, a cavalo, o trabalho era duro e logo pela madrugada, saíamos para “ajudar” a olhar o gado, para acompanhar o conserto de uma cerca, para olhar os empregados “tocar fogo no mato”.  Na “rua”, sempre às quartas-feiras, era o momento de caminhar pela cidade ou mesmo brincar pela casa, que também era grande. Aos sábados era o dia da feira, onde sempre passava uma boa parte do tempo, mesmo sem muito dinheiro, quase nenhum, mas era o local onde via muita gente, muitos produtos interessantes como dentaduras vendidas em um cesto, onde presenciava uma grande quantidade de pessoas que tomavam café, almoçavam, paqueravam e onde podia encontrar meus bois de barro, cada um mais bonito que o outro.  Comprei alguns e mantive com eles, uma relação bastante positiva, pois cheguei a ser dono de bois “valiosos”, fortes e que me colocavam em situação de “prestígio”. Nem sabia o que isso significava realmente.

Na rua ou na roça, banho só um à tardinha, por falta de tempo ou para não deitar sujo. A fiscalização era feita por minha tia ou por uma senhora chamada Danielze, que também compartilhava muitas histórias.

À noite, na fazenda, nos reuníamos para uma conversa com temas livres, pude ver, por várias vezes, minha tia Mariana todo dengosa fazendo cafuné em meu tio Sinhô, que até fechava os olhos, sem estar dormindo. Pude observar também que em algumas vezes a moça que lá trabalha, a pedido da minha tia, fazia um banho de escalda pés em meu tio. O cafuné somente minha tia tinha autoridade e intimidade para praticar.

As festas “na rua” pareciam coincidir com a minha presença lá no interior, sem saber que eram os meses das festas juninas e das festas de fim de ano. Em junho também era o aniversário de meu irmão, o João, e íamos para lá comemorar e por lá eu ficava para aproveitar as férias. As festas, até hoje, estão registradas na minha memória e sempre “me pego” realizando muitas voltas na praça, rodando em torno da igreja matriz, Nossa Senhora Santana, com algumas paradas no coreto que ficava ao lado da igreja. Havia roda gigante, hoje tão pequena diante das existentes, barco com cordas que eram puxadas com toda a força para que fôssemos ao ponto mais alto possível, o lança argolas com direito a alguns brindes, tiro ao alvo, as comidas da época e as músicas colocadas nos alto-falantes para toda a praça e imediações. As músicas de Roberto Carlos faziam o maior sucesso. Lá, no interior de Sergipe, onde os habitantes eram conhecidos como capa-bodes, vivi uma parte significativa do meu crescimento como ser humano. Fecho os olhos e vejo construções e cenários que não mais existem, mas casa “da rua” continua por lá, ainda resistindo ao crescimento da cidade. A casa da fazenda também ainda “está de pé”, mas o engenho já não existe.  Também não estão por lá, e nem por aqui, os meus tios, os nossos pais, e nem a nossa inocência. Ficaram os momentos vividos, as lições apreendias e a saudade.

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