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Bodega do César

19/05/2025
in Destaques, Sergipe
Bodega do César
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Luiz Eduardo Oliveira
Doutor em Saúde e Ambiente.

A bodega do César na realidade foi o local onde meus pais, Augusto César e Enelita Melo, trabalharam e criaram seus 10 filhos.  Deparei-me com algumas fotos “antigas” e, de imediato, senti algo dentro de mim que clamava por traduzir-me em palavras.  Tentarei ser fiel a essa voz interior.

O registro mais antigo que tenho em mente é que ali, onde moramos, funcionou o “bar do Sizino”. Meus pais financiaram o imóvel e lembro-me do dia da quitação, 30 ou 35 anos depois, salvo engano. 

As recordações mais impactantes e que, de vez quando, tentam e conseguem “balançar” meus frágeis alicerces, remontam à década de 70, 1970. Ano no qual o Brasil foi campeão mundial de futebol.  Daí começam minhas lembranças, pois o meu pai não gostava de futebol e isso era algo impensado e imperdoável para um homem do terceiro mundo, que só tinha isso para se alegrar diante do cenário internacional.  Enfim, só depois, muito tempo depois, descobrir o porquê também não gosto de futebol. Nem eu e nem meus irmãos homens.  Nem meus filhos.  Gostamos de esportes.

A bodega dos meus pais é a minha referência de criança e de adolescente. Dali, daquele balcão, do pouco dinheiro que sobrava nunca vi minha mãe pedindo dinheiro a meu pai.  Ela sabia que era dela também. Isso foi impactar minha visão familiar e social, agora sei disso. Sempre tive mulheres fortes ao meu lado, um privilégio.

A bodega do César ficava ali, na confluência das ruas Laranjeiras com Siriri. Por esse importante ponto comercial já provaram da vitamina de banana e do bolo de pão (delícia feita com pão “dormido”) que minha mãe fazia, personalidades da sociedade sergipana. Lembro-me de Barrinhos, Araripe Coutinho, Lisboa. E outros tantos já provaram dos sucos (mangaba, maracujá, jenipapo) que meu pai fazia. Em outra oportunidade falarei sobre o modo de preparo dessas iguarias.

Ali, próximo ao nosso sustento, foi o local que serviu de inspiração para o Amando Fontes escrever sobre a vida de “mulheres de vida fácil” como Djanira, Branca, Mariana, Esmeralda, Tita, Angelina e tantas outras personagens intituladas “mulheres-damas”, em seu livro Rua do Siriri. Outros tempos, 1937, data do lançamento do livro. À época da minha adolescência não as encontrei por lá.

A região também foi o palco, bem em frente ao nosso bar, do forrozão da rua Siriri, organizado com a participação de Félix Mendes. Tivemos contato com as mais variadas expressões artísticas locais. Assisti a muitos artistas e suas apresentações ficaram marcadas no meu imaginário.

Na bodega tinha “de um tudo” e sem muito esforço consigo lembrar da farinha, que vendíamos, a granel, e até da forma de embalar, em papel, retorcendo nos dedos. Da manteiga, facilmente vendida em proporções menores, 50 ou 100 gramas, coisa bastante comum, e em papel diferenciado, para não grudar. Lembro-me dos beberrões que gostavam do Alcatrão de São João da Barra, de Pitu e de algumas outras que eram desmembradas em doses, com ervas dentro das garrafas.  O Getúlio, conhecido por ser viciado em cachaça, não encontrava guarida para beber, embora sempre o encontrasse conversando com meus pais.  Minha mãe também ouvia dona Catita, uma senhora que conversava sozinha e que vivia sempre pelas ruas Laranjeiras e Siriri. Algumas vezes fiquei à espreita para entender ou ver com quem ela realizava longos diálogos.

À memória chegam, em propulsão, os anúncios do “compre batom”, dos meizinhos vendidos em tira, dos doces de leite em forma de pirulito, dos chokitos, dos pasteis de camarão.  Por lá, na bodega, era possível encontrar o que tinha de mais “atual” e gostoso.

Pilhas, leite, pão, cigarros (Holliwood, Minister, Continental, Arizona, Plaza, Belmont, Charm, Hilton, Carlton) que vendíamos a carteira ou por unidade, acredito que todos eram da empresa Souza Cruz e que disponibilizava um mostruário bonito, posto logo atrás da mesa do “dinheiro” e onde meus pais ficavam à espera dos clientes, sempre fazendo alguma atividade. Lá, no bar, era possível encontrar, também, produtos que eram disponibilizados em “mercadinhos” e que meu pai computava em uma caderneta para clientes especais, muito embora tenha presenciado algumas discussões com dona Núbia, antiga frequentadora.

O quadro com os preços de alguns produtos, escrito à mão, e colocado em local visível, era atualizado sempre que houvesse necessidade e às vezes remarcávamos duas a três vezes no mês. Não sabia o que era inflação.

Apesar das tarefas diárias no bar, todos nós, homens e mulheres, tínhamos nossas atividades em casa, especialmente aos sábados, dia de faxina.  Lavar a casa, com três quartos e um único banheiro era uma das tarefas.

Estudar nunca foi uma opção para nós, era condição inquestionável, pois minha mãe, além de suas atribuições como mulher, mãe, comerciante, ainda nos colocava para “tomar a tabuada” e ai de quem errasse uma única vez. Verificava a lições, assinava os boletins e as poucas “comunicações” que trazíamos para casa, era melhor nem pensar nessa possibilidade.  Fico imaginando como ainda tinha tempo para realizar suas fantasias como mulher, sexualmente ativa.

Vem de forma intrínseca o Colégio de dona Anita, na Pedro Calazans, o Colégio de Aplicação, na rua de Campos e Universidade (pública), todos esses momentos foram as opções disponibilizadas, muito embora meus pais tenham feito algumas concessões para alguns filhos. Isso só soube tempos depois e entendi perfeitamente. Não somos iguais.

Brincamos nas ruas Laranjeiras e Siriri e raras foram as vezes que escapamos do entorno do bar. Nossas brincadeiras em casa, no beco ao lado eram diárias. Caminhar pelo centro, descendo o calçadão, foi um destino fácil e tranquilo. Faço isso até hoje.

Cinema Aracaju, Cine Vitória, Cine Pálace eram opções que nem sempre estavam disponíveis, pois era preciso contemplar, com dinheiro, os dez filhos… Nunca nos foi negado o caminhar e por isso percorri, várias vezes, a pé ou de ônibus, as ruas de Aracaju e seus bairros periféricos. Era possível, naquela época, passar por baixo da catraca e ir até o fim de linha e pegar o mesmo ônibus, de volta, sem pagar.  Fiz isso algumas vezes.  Uma vez fui até o bairro soledade em uma viagem e tive que esperar até o horário da volta pois não havia outra alternativa, tarde da noite.

Ao Colégio de Aplicação ia caminhando com minha irmã e a jornada era dura durante o sol do meio dia.  Lá entrávamos às 13:00 horas em ponto e não podíamos pensar em voltar para casa.   Ali, no CA, dentro da Universidade, próximo ao Colégio Atheneu Sergipense, vivi momentos únicos, com colegas que me inspiraram e com os quais compartilhei a adolescência pobre e sem preconceitos.

Nossa casa, anexa ao bar, uma extensão difícil de respeitar, foi um reduto de encontros para trabalhos escolares e mesmo com poucos recursos nunca faltou lanche e não lembro de qualquer constrangimento por sermos filhos de bodegueiros.  De longe, de onde eu estivesse, sempre soube que sonhar era preciso e mesmo com raiva dos meus pais em determinados momentos, segui trabalhando e depois, aprendi a sonhar.

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