Sócrates, considerado o homem mais sábio da Grécia Antiga, teve como uma de suas maiores influências uma mulher: Diotima de Mantineia, figura pouco mencionada nos relatos históricos. Foi o próprio filósofo quem reconheceu o valor do saber transmitido por ela, especialmente acerca da virtude do amor, conforme registrado por Platão no diálogo “O Banquete”.
Este banquete foi realizado na casa de Agaton, em comemoração à vitória do anfitrião por ter apresentado uma tragédia aclamada nos festivais dedicados a Dionísio, o deus do vinho. A tragédia grega era um gênero teatral profundamente ovacionado pelos gregos, cuja função era despertar emoções intensas no público, como o medo e a piedade, conduzindo-o à catarse, ou seja, à purificação da alma por meio da arte. Essas peças eram encenadas durante festivais em homenagens a Dionísias e seguiam uma estrutura própria que favorecia a identificação do espectador com os personagens trágicos. Ao vivenciar, ainda que simbolicamente, o sofrimento encenado, o público era conduzido a uma espécie de alívio espiritual, justamente porque se tratava de uma representação e não da realidade.
No contexto do Banquete, a tragédia apresentada por Agaton incorporava esse ideal catártico. A reunião, inicialmente concebida como mais uma celebração regada a vinho e comida, tomou um novo rumo a partir de uma sugestão de Sócrates: em vez de simplesmente beberem, que cada convidado fizesse um discurso sobre um tema elevado, o amor (eros). A proposta foi aceita, e os participantes passaram a discorrer sobre o tema sob as mais diversas perspectivas. Quando chegou sua vez de falar, Sócrates surpreendeu a todos ao evocar os ensinamentos de uma mulher, a sacerdotisa Diotima de Mantineia. Até então, pouco se sabia, e ainda se sabe, sobre a profundidade e a sabedoria dessa figura enigmática.
No relato socrático, é ela quem lhe transmite as ideias mais elevadas sobre o amor, elevando-o a uma contemplação do Belo em sua forma pura e imutável, superior à beleza do cosmo. Importante lembrar que Sócrates, em sua busca constante pela verdade, havia recorrido ao Oráculo de Delfos para saber quem seria o homem mais sábio da Terra. A resposta foi que ele próprio, Sócrates, era o mais sábio, justamente porque reconhecia sua ignorância. Essa humildade intelectual é evidenciada no fato de atribuir a Diotima o conhecimento sobre o amor, revelando que o verdadeiro sábio não é aquele que acumula saber, mas aquele que compreende a limitação do próprio conhecimento.
A atitude de Sócrates em reconhecer Diotima como sua mestra é, por si só, um ato de sabedoria. Direcionar o saber a outrem é um testemunho de sua grandeza filosófica. Assim, o reconhecimento da autoridade intelectual de Diotima não apenas engrandece Sócrates, mas reafirma que a sabedoria verdadeira não se sustenta na vaidade, e sim na busca incessante pelo conhecimento. O Banquete, de Platão, permanece até hoje como uma das obras mais influentes da filosofia ocidental. A figura de Sócrates, por sua vez, segue como um modelo de humildade, sabedoria e abertura ao saber, valores que continuam a inspirar o pensamento filosófico e a literatura em todas as épocas.
Antônio Porfirio de Matos Neto
Graduação em Direito, Economia, Ciências Políticas e Filosofia
Graduando em História
Pós graduação em Gestão Municipal
Mestre em Economia
Doutorando em Filosofia