No cenário educacional contemporâneo, cada vez mais desafiador e exigente, a base sólida para a alfabetização precisa ser cuidadosamente construída desde os primeiros anos da infância. Nesse contexto, a consciência fonológica desponta como um dos pilares essenciais para a aprendizagem da leitura e da escrita, sobretudo na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
A consciência fonológica refere-se à habilidade de perceber, refletir e manipular os sons da fala, compreendendo que as palavras são compostas por unidades menores, como sílabas, rimas e fonemas. Trata-se de uma competência metalinguística que antecede e sustenta a apropriação do sistema alfabético, permitindo que a criança associe os sons da fala às representações gráficas da escrita.
Nos primeiros anos escolares, é comum que o foco esteja nos aspectos visíveis da alfabetização — como a memorização de letras e palavras —, mas é na dimensão sonora da linguagem que encontramos o terreno fértil para o verdadeiro avanço. Crianças que desenvolvem bem a consciência fonológica conseguem, por exemplo, segmentar palavras em sílabas, identificar sons iniciais e finais, substituir fonemas e brincar com rimas. Essas habilidades são preditoras comprovadas do sucesso na leitura e na escrita.
É na Educação Infantil que se inicia esse processo de forma lúdica, por meio de músicas, parlendas, jogos sonoros e contação de histórias. Nessa etapa, mais do que alfabetizar formalmente, o objetivo é sensibilizar o ouvido para os sons da língua, fortalecendo o repertório oral e preparando o terreno para a alfabetização propriamente dita, que se intensifica nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Quando os professores compreendem a importância da consciência fonológica e a incorporam de maneira intencional e planejada em suas práticas, promovem um percurso de alfabetização mais consistente, respeitando o ritmo e a singularidade de cada criança.
Outro aspecto relevante no cenário atual é o enfrentamento das defasagens provocadas pelo ensino remoto e pelo afastamento prolongado das crianças do ambiente escolar. Muitos estudantes retornaram às escolas com lacunas significativas na linguagem oral e escrita. Nesse sentido, fortalecer as práticas que desenvolvem a consciência fonológica não é apenas desejável, mas urgente, como estratégia de recomposição das aprendizagens essenciais.
Assim, reconhecer a consciência fonológica como componente crucial da alfabetização é dar um passo importante em direção a uma educação mais eficaz, equitativa e centrada no desenvolvimento integral da criança. É compreender que antes de aprender a ler e escrever, é preciso aprender a ouvir — e ouvir com atenção os sons da língua é, sem dúvida, o primeiro ato de amor à palavra escrita.
Professor Dr. Demerson Moura Tavares