Por Rita Oliveira
Em entrevista ao RO Acontece o pré-candidato a governador, advogado Emanuel Cacho, fala do seu projeto de candidatura, diz que a política não pode tá nas mãos de empresários que pensam que a política dar lucro e prejuizo; que está havendo uma geração de político pálido, sem posição, onde todo mundo parece querer ficar do lado do poder e do dinheiro; e que não gosta de político que é eleito por direito, bota o laranja e fica despachando no gabinete.
Confira a entrevista:
O senhor será candidato a governador de Sergipe nas eleições 2026?
O cenário político precisa de um candidato a governador. Tem o governador Fábio Mitidieri e tem Emanuel Cacho na oposição. Não sou contra o governador, mas o povo de Sergipe tem de ter opção de escolha de nomes. Como os nomes que poderiam ser candidatos não relembra o tempo de João Alves, que dizia: eu vou ser candidato, independente de qualquer coisa eu serei candidato.
O que o senhor quer dizer com os nomes que poderiam ser candidatos não relembra o tempo de João Alves?
Parece que todo o político de Sergipe quer fazer parte de um grupo que não cabe todo mundo. Eu sei que no futuro, pelo menos, 60% será expurgado desse grupo. Eu espero que esse grupo venha apoiar um candidato a governador da oposição, sem ter nada contra o governador e o governo dele. É apenas uma opção e a vontade política de que haja um processo democrático, real, verdadeiro, onde cada um tenha uma posição sem o ranço daquilo que foi construído na eleição passada, que terminou todo mundo junto. Então, não pode tá todo mundo contra o outro em uma eleição e na outra todo mundo em um pacote só. Tá faltando no político moderno posição. Você pode ganhar ou perder, mas ter posição.
Qual é sua posição?
A minha posição hoje é ter uma candidatura a governador que seja oposição ao governo. Isso é bom para o povo, que tem opção de voto. Espero que eu seja a opção do povo de Sergipe.
Vai ser candidato pelo Democracia Cristã?
Hoje (sexta-feira, 25) está tendo uma reunião do Democracia Cristã, em Brasília. O presidente do DC levou meu nome e eu tenho mais dois partidos que pretendem que eu seja candidato.
Quais são esses partidos?
Está em sigilo, pois a política no Brasil virou uma coisa. Tem assédio, a conquista pelo poder e pela força é uma coisa impressionante. Os políticos perderam oposição, as brigas são locais, são tribais e no plano estadual está todo mundo junto. Quem vai contestar, quem vai cobrar o trabalho, o serviço, quem vai cobrar as contas? Me parece que estamos vivendo um equívoco político lá da matriz inicial da política, onde era o único poder. Aquilo que o próprio Jeus Cristo dizia: Dai a César o que é de César. Então se esses caras estão atrás de César e não do povo, eles estão no mesmo lugar. Agora eu tenho a certeza e assino qualquer documento. Isso vai implodir, não vai dar certo. Não pode dar certo, pois se der tão enganando o povo. Eu tenho grande admiração pelo governador, pela caminhada dele, mas parece que se cerca de gente que quer negociar posições. Tá faltando, talvez, liderança. Todo mundo quer botar um filho ou a filha, afilhada, mulher, a namorada para ser vice-governadora ou suplente de senador. Isso não é comércio. Foi contra esse comércio que Jesus Cristo implodiu o templo. Ou você lida pela política, pela democracia ou lida para o quanto é melhor para mim. Se der a marmita para minha família está tudo certo. Se eu eleger alguém que eu domine vou ter 90% daquele poder. Então isso não vai funcionar comigo. Eu pretendo fazer um governo como sempre fiz na minha vida pública, uma vida aberta. Nos meus anos de política não enriquei, não galguei o poder pelo poder e, principalmente, patrimônio sem limiete, sem saber de onde vinha.
O senhor acha que haverá um racha no agrupamento governista?
Um racha não, uma implosão. Nenhum candidato a governador nunca teve seis candidatos a senador. Tem muito candidato a vice-governador também. Todos querem emplacar as filhas como vice de Fábio Mitidieri.
Eu não me incomodo que meu vice seja um homem, um jovem, um velho, travesti. Qualquer opção que se venha. Se Linda Brasil quiser ser minha vice-governadora ou minha senadora, que venha. Assim como Luizão Donatrampi, Rodrigo Valadares. Política não é comércio, não é negócio, tem de ter opção. Não pode tá nas mãos de empresários que pensam que a política dar lucro e prejuízo. A política é posição, você pode perder prestigio ou ganhar, mas não pode ganhar dinheiro e poder fazendo comércio sem ser político. A gente tá com esse problema em Sergipe. Isso provoca uma geração de político pálido, sem posição, onde todo mundo parece querer ficar do mesmo lado, o lado do poder, onde tem dinheiro, quem está governando a prefeitura, o estado e trabalha para que esteja unido. Unido contra quem? Tem de ter alguém do outro lado. Sabe quem está do outro lado? O povo. Então é esse lado que quero está.
Talvez esse tipo de político como eu, como João Alves era, como alguns políticos do passado, que a Assembleia era um palco de discussões ideológicas, era a política de coronel, mas cada um tinha um lado. O importante é que você tenha lado, saiba escolher qual tipo de político que você quer para governar sua cidade e não esse comércio, esse conclave, que sai uma fumaça branca e todo mundo tem de baixar a cabeça. A política de Sergipe tá parecendo a política do Vaticano. São 500 cardeais e só votam 200 porque esses passaram pela peneira do poder. A gente perde os votos dos mais experientes. Nós estamos vivendo um conclave em Sergipe há mais de 2 anos. Todo mundo cerca o governador e ninguém cerca o governador atrás do bem estar de ninguém. Nós temos secretaria de investimento financeiro em Sergipe. Quais foram os investimentos que fizeram? Venderam a empresa de água de Sergipe, tão prestes a vender o Banese. O Banese é o único cartão que ninguém recebe em canto nenhum. O Banese não é banco de governador é banco de estado. Então venda, mas não pode vender por qualquer dinheiro e nem dar dinheiro para prefeito gastar como quer.
O senhor acredita que o governador, depois do ocorrido nas eleições 2024 em Aracaju, vai chamar o feito a ordem?
Acredito e confio que o governador vai ter uma hora que vai espanar essa turma de perto dele. Eu tô na oposição, eu vou ter o direito de falar. Vou falar na hora certa. Eu não sou perfeito. Sei que não consegui ficar rico com política porque a política não é a minha profissão. Sei que não me dobrei aos projetos políticos daquilo que chamam de grupo em Sergipe. Jamais ganharia uma prefeitura para dar mais de 90% de poder a ninguém. O poder é meu, é de quem me elegeu, é do povo.
Está se referindo a Emília Corrêa, dando poder ao presidente do PL Edivan Amorim?
Não. Tô me referindo as eleições municipais de uma forma geral. Prefeito do interior ganha uma eleição e já tem o cara do remédio, do médico, o que vai vender tratou… Então não pode ser assim. O povo tá de olho, a juventude tá olhando e tá aprendendo. Ninguém mais tem o direito de ser ignorante. Tá na cara, é para todo mundo ver. Nós estamos vendo políticos que saíram da política pela idade, pelo desgaste ou porque se sentiram satisfeitos. E hoje nós estamos na terceira, quarta geração familiar de políticos.
O pobre pode ser candidato a vereador e ganhar uma eleição com x votos, mas ele tem de se render a esses grupos. Tirando uma ou outra figura, nós temos quem na primeira eleição se elege com o voto e o carisma do seu segmento e na segunda eleição já está entregue a esses grupos. Então, o que combato é isso.
Em 1992 eu nunca tinha me metido na política e minha irmã foi candidata, tendo 1.900 votos para deputada estadual. 10 anos antes, 1.900 eram muitos votos. Em 2022 eu procurei um candidato para votar e não encontrei. Estou há duas eleições votando em branco e anulando meu voto. Eu me sinto decepcionado com essa política, embora eu trabalhe com política.
A que decepção se refere?
Você olha e ver a política da adulação ao governador. Todo dia é lançado um pré-candidato a vice-governador, senador. Ninguém respeita a liderança do grupo. Todo mundo quer ser vice, quer ser senador, mas a gente não sente pulsar na política sergipana a vontade de fazer política real, que o padrinho seja apenas o padrinho e não o dono do mandato. Eu tive uma grande decepção nos últimos dias. Eu fiz uma pergunta a um determinado político: quem era, como chegou aqui. E respondeu: Sou do grupo tal, abcd. Eu nunca consegui fazer isso.
Não se pode ser empresário e presidente de partido. Sergipe é um equívoco na política brasileira. Não gosto de político que puxa o saco, que arrodeia e quando ganha, ao invés de assumir o cargo que é seu por direito, bota o laranja e fica despachando no gabinete. Eu conheço uma meia dúzia que tá fazendo isso e essa meia dúzia de gente querendo fazer negócio em um estado pequeno e dizendo que Sergipe é o florescer da economia nacional e a gente ver o comércio morto, os empresários de braços cruzados e quem tem dinheiro mantendo suas fortunas na construção civil e alguns arroubos de investimentos, quando na Paraíba e Alagoas um metro quadrado de terra vale 5x mais que aqui. Sergipe é o fim do mundo e os cara vendem uma propaganda como se fosse o maior negócio do mundo para Sergipe.
Eu olho minha vida e sei onde errei, onde deixei de ganhar e eu sei onde vou ter de perder. Mas eu sei de uma coisa, não vou ser puxa-saco nem vou trabalhar para teleguiar ninguém na politica, pois acho que quem se elege é com a confiança do povo e deve ter somente um chefe: o povo.