Acabo de ler o excelente artigo intitulado “A Ditadura e a Fundação do MDB em Sergipe”, escrito pelo professor Jorge Carvalho, confrade da Academia Sergipana de Letras.
A leitura despertou em mim antigas lembranças do MDB de Frei Paulo, especialmente dos antigos comícios realizados na Praça da Feira, no início dos anos 1970. Naquela época, sob a liderança de José Carlos Teixeira, figura marcante e de discursos eloquentes, os eventos políticos ganhavam vida. Ele sempre estava acompanhado de seu pai, o senhor Oviedo Teixeira, uma presença respeitada na região, proprietário de duas ou mais fazendas nas redondezas de Frei Paulo.
Lembro-me vividamente dos comícios realizados sobre um caminhão. Eu, ainda criança, permanecia atento, ouvindo as críticas contundentes ao partido adversário da época, a Arena, que tinha como representante o prefeito de Frei Paulo, o conhecido João Teles da Costa. As críticas também eram direcionadas ao regime militar, o que incomodava a classe conservadora da pequena e tradicional cidade. A excelência dos oradores era evidente, destacando-se, além de José Carlos Teixeira, o jovem médico Gilvan Rocha, Costa Pinto, Raul Andrade e meu padrinho Antônio Mesquita, que, ao contrário dos demais, adotava um tom mais moderado em suas falas. Outros nomes também marcaram presença, embora eu não consiga recordá-los agora.
A família que apoiava o MDB local era a de Paulo Costa, carinhosamente chamado de “Papá”, que viria a se tornar prefeito na década de 1990. Seu irmão, Zé de Santinho, candidatou-se duas vezes ao cargo de prefeito, porém foi derrotado pelos candidatos da Arena.
Os comícios na Praça da Feira tinham um aspecto peculiar: poucos se arriscavam a se aproximar do caminhão. Por essa razão, os eventos eram realizados na feira, garantindo a presença de público, que ouvia os discursos enquanto realizava suas compras simples, como farinha, arroz, feijão, açúcar, carne e tabaco. Alguns permaneciam encostados nas paredes das casas próximas, aproveitando o serviço de alto-falante que transmitia as falas envolventes dos oradores.
Foi dessa maneira que tive meus primeiros contatos com a política, no verdadeiro laboratório da vida prática. Em minha memória infantil, permanecia a imagem daqueles políticos corajosos que falavam abertamente contra o poderoso chefe político de Frei Paulo, o senhor João Teles, e, sobretudo, contra o regime militar.
São boas lembranças dos grandes oradores do MDB, que, na Praça da Feira de Frei Paulo, marcaram minha infância com seus discursos cheios de coragem e convicção.
Antônio Porfirio de Matos Neto
Bacharel em Ciência Política, Filósofo e Economista