Para que todas as fases do desenvolvimento infantil sejam construídas de maneira saudável, alguns cuidados precisam ser praticados ainda na primeira infância, que compreende a fase desde o nascimento até os seis anos. E inserido nesse processo preventivo, a saúde bucal tem grande influência na qualidade de vida dos pequenos. Neste sentido, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), alerta sobre como cuidar da higiene bucal das crianças e onde buscar atendimento.
Antes mesmo do nascimento da criança, o cuidado com a saúde bucal deve iniciar pela mãe, com o pré-natal odontológico. Através da Rede de Atenção Primária (Reap), a gestante pode buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e iniciar o pré-natal, que inclui o atendimento odontológico. Ao nascer, a criança também tem acesso a esse acompanhamento através da UBS, do Centro de Especialidade Odontológica (CEO) e ainda pelo Centro de Especialidades Médicas da Criança (Cemca), anexo ao Cemar Siqueira Campos.
A odontopediatra do Cemca, Suzane Jacinto, orienta que o quanto antes houver a busca por orientação profissional, melhor será o desenvolvimento da criança e maiores serão as chances de evitar hábitos que prejudicam a saúde bucal dos pequenos. No Cemca, são assistidos os pacientes direcionados pelas UBSs com até três anos de idade.
Perfil dos pacientes
“Acima dessa idade, são encaminhadas crianças com casos de canal de dente decíduo (de leite) devido a traumatismo ou lesão cariosa, ou ainda crianças com comportamento mais desafiador. A maior demanda vem de crianças com idade entre 4 e 9 anos, mas também recebemos uma demanda de bebês para realizar frenotomia, que é a cirurgia da língua presa”, detalha Suzane.
A odontopediatra explica ainda que essa cirurgia é recomendável logo após o nascimento do bebê, por apresentar uma recuperação mais rápida e auxiliar no melhor desenvolvimento da criança, seja na respiração, alimentação e ainda desenvolvimento da fala. “Também recebemos bebês que apresentam pequenos cistos na gengiva ou lesões bucais, que necessitam de acompanhamento ou mesmo biópsia”, cita.
Pré-natal odontológico
Ainda na gestação é essencial que a mãe realize cuidados com a saúde bucal, mais indicados no segundo trimestre, e que também seja realizado em conjunto com o parceiro (a), devido ao contato íntimo. Porém, procedimentos de urgência devem ser resolvidos em qualquer fase da gestação.
“Nesse momento, ela vai receber orientações de como cuidar da saúde bucal. Se a gestante tiver doenças bucais como gengivite, periodontite, existem bactérias que podem cair na circulação e levar ao parto prematuro ou até mesmo aborto. Se possível, antes mesmo da gestação é importante que a futura mãe cuide da sua saúde bucal”, alerta a especialista.
Bicos artificiais
“Ainda durante o pré-natal, a mãe será orientada sobre os prejuízos dos bicos artificiais e os benefícios da amamentação. O aleitamento exclusivo até os seis meses é muito importante, e após esse tempo se deve ofertar os líquidos em copinho e colher. O bico artificial é muito prejudicial para o desenvolvimento das arcadas dentárias e pode levar ao estabelecimento da respiração bucal”, explica Suzane Jacinto.
Assim como as crianças com a “língua presa” sofrem com a respiração bucal, as que utilizam bicos artificiais também, pois normalmente apresentam postura baixa de língua. “O local de descanso da língua é no céu da boca, proporcionando a respiração nasal. Respirando pela boca, a criança acaba apresentando quadros alérgicos, gripes e problemas de adenoides e amídalas, acentuando a respiração bucal. Nesse sentido, além de todos os ganhos da amamentação, a respiração nasal também é estimulada”, incentivou Suzane.
Higienização e ida ao dentista
Sobre a higienização da boca do bebê, de acordo com a especialista, ela só precisa acontecer após o surgimento do primeiro dentinho, desde que a alimentação da criança seja o aleitamento materno exclusivo. Quando isso não é possível, é necessário fazer a higiene, mas de maneira simples, feita com gase, água filtrada ou aquecida, retirando o excesso do leite.
Segundo a odontopediatra, já a partir do nascimento do primeiro dente, a higienização deve acontecer com a escova apropriada, de marcas reconhecidas, e o creme dental deve ser com flúor, desde o primeiro dente. “Não precisa ser creme dental infantil, pois a diferença é o sabor e a embalagem lúdica. A prescrição correta atualmente é que seja um creme dental para a família toda, a menos que a criança tenha uma necessidade pontual. Mas sendo o mesmo creme dental para a família toda, o que vai mudar é a quantidade”, avalia.
Até três anos de idade, a medida de creme dental é semelhante a um grão de arroz, fazendo a higiene duas vezes ao dia. Acima dessa idade, a medida deve ser do tamanho de uma ervilha, e a escovação deve acontecer após as principais refeições, sempre evitando o açúcar.
Sobre a frequência ao dentista, a profissional explica que cada criança tem um tempo para retorno ao dentista. “Tem crianças que só precisam retornar uma vez por ano, outras a cada três meses, outras de seis em seis. Depende do risco de ela desenvolver lesões cariosas ou outras doenças, portanto, ir ao dentista de seis em seis meses não é uma regra”, alerta.
Açúcar, o grande vilão
Por favorecer a perda de minerais e provocar lesões cariosas, o açúcar se torna o maior vilão quando o assunto é saúde bucal. Sendo assim, os profissionais orientam que seu consumo seja evitado ao máximo. “O açúcar causa a desmineralização (perda de minerais), e com o passar do tempo enfraquece o dente e ele se rompe, formando cavidades. O flúor dificulta esse processo, devolvendo os minerais perdidos ao dente”, explica Suzane Jacinto.
As fórmulas como complemento alimentar para bebês também têm tipos de açúcares com potencial cariogênico, e por isso é importante fazer a higiene bucal e sempre que tiver alguma dúvida, procurar um especialista.
AAN