O Índice de Incerteza Mundial é uma nova medida que rastreia a incerteza em todo o mundo, trata-se de uma medida trimestral da incerteza econômica e política global que cobre 143 países.
O Índice de Incerteza Mundial (WUI) é calculado contando a porcentagem da palavra “incerto” (ou sua variante) nos relatórios de país da Economist Intelligence. A WUI é então redimensionada multiplicando por 1.000.000. Um número maior significa maior incerteza e vice-versa. Por exemplo, um índice de 200 corresponde à incerteza da palavra responsável por 0,02 por cento de todas as palavras, o que – dado que os relatórios da EIU têm em média cerca de 10.000 palavras – significa cerca de 2 palavras por relatório.
Globalmente, o índice de incerteza da política comercial está subindo acentuadamente, mantendo-se estável em níveis baixos por cerca de 20 anos. Na visão dos economistas do FMI, aumentos na incerteza prenunciam quedas significativas na produção. Assim, percebe-se que o aumento da incerteza comercial é algo que pode trazer como consequência a redução do crescimento global.
Para melhor entendimento do significado do índice irei apontar alguns dados de um artigo publicado no Fundo Monetário Internacional (FMI), pelos Economistas Hites Ahir, Nicholas Bloom e Davude Furceri. O fato é que na visão destes cientistas, a incerteza global atingiu níveis sem precedentes no início do surto de COVID-19 e permanece elevada. Assim, o Índice de Incerteza Mundial mostra que, embora a incerteza tenha caído cerca de 60 por cento desde o pico observado no início da pandemia COVID-19 no primeiro trimestre de 2020, permanece cerca de 50% acima de sua média histórica durante o período 1996-2010.
Segundo os economistas citados, o crescimento econômico nas principais economias sistêmicas, como as dos Estados Unidos e da União Europeia, é um dos principais motores da atividade econômica no resto do mundo. O questionamento que eles levantam é se isso também é verdade quando se trata de incerteza global. Como economista, a minha visão é a de que a incerteza comercial tem aumentado não apenas nos Estados Unidos e na China, mas também em muitos países ao redor do mundo. Percebe-se que o nível de incerteza comercial, no entanto, varia significativamente entre regiões e grupos de renda, os relatórios do FMI apontam isso. Com base em tais dados, pode-se afirmar que existe um aumento no índice de incerteza maior no Hemisfério Ocidental, e na sequência vem a Ásia, a Região do Pacífico e a Europa.
E para piorar a situação mundial, desde o início de 2020 que o coronavírus se espalha e causa incertezas nas economias mundiais. O que vimos neste período foi que à medida que mais países adotavam quarentenas e distanciamento social, o medo do contágio e da perda de renda aumentou a incerteza em todo o mundo. Como resultado, viemos a maior incerteza econômica dos últimos anos, tudo por conta desta pandemia e também outros surtos de doenças. A realidade é que o nível de incerteza em torno do coronavírus deve permanecer alto à medida que os casos continuam a aumentar e ainda não está claro quando a crise terminará.
Mas existe luz no fim do túnel, pois antes mesmo das vacinas serem aplicadas, um relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), de dezembro de 2020 apontava que os volumes do comércio global de mercadorias se recuperaram no terceiro trimestre de 2020 de uma profunda queda no segundo trimestre provocada pela crise do COVID-19, com isso, essa alta do terceiro trimestre ajudou a limitar a contração do comércio mundial desde o início do ano passado.
De acordo com a OMC, no terceiro trimestre de 2020, o volume de comércio de mercadorias cresceu 11,6% em relação ao trimestre anterior, após queda de 12,7% no segundo trimestre (revisado para cima de uma queda inicialmente estimada de 14,3%). Apesar da retomada, o volume de negócios entre julho e setembro ainda foi 5,6% menor que no mesmo período do ano passado. Mas são informações relevantes que podem reduzir as incertezas econômicas mundiais. Não podemos negar que esta pandemia, pelos números em pauta, até o dia da confecção deste artigo, remontam a um mundo de muitas incertezas. A situação de momento é a seguinte: mais de 94 milhões casos confirmados, mais de 2 milhões de mortos e 223 países e/ou áreas com casos, o mundo inteiro afetado e sofrendo diversas consequências, vivendo grandes incertezas.
Neste cenário, eu concordo com a Organização Mundial da Saúde, de que a cobertura universal de saúde é uma meta ambiciosa que o mundo não pode perder. As lições que os países estão aprendendo atualmente com a pandemia COVID-19 ressaltam que investir em saúde para todos não é opcional. Sociedades e economias estáveis, equitativas, prósperas e pacíficas só são possíveis quando ninguém é deixado para trás. Esta crise é uma oportunidade de aproveitar o momento para fazer mudanças que beneficiem tanto a cobertura universal de saúde quanto a segurança sanitária.
Entendo que a incerteza econômica mundial só será reduzida se tivermos capacidade de reconstruir um mundo melhor, um mundo mais saudável, isto envolve não só vencermos a guerra contra a COVID-19, mas também ações que possam reduzir a poluição do ar, melhorando a qualidade do ar; orientação adequada para uma alimentação saudável, e um forte programa mundial de saúde preventiva, além de diversas outras ações coordenadas entre os países e os blocos econômicos mundiais. A geopolítica de combate das doenças é fundamental para a redução das incertezas globais.

Saumíneo da Silva Nascimento
Economista e Vice Presidente de
Relações Institucionais da Sociedade
de Educação Tiradentes S/A.